domingo, outubro 31, 2004

Ó Edgar, não conheces esta testa de algum lado? Posted by Hello

A Ana Carolina enviou-me (há muito tempo, diga-se) estas fotografias. Pediu-me para enviar para o resto do pessoal, mas a minha preguiça não me deixou :( Bem, pelo menos agora podem recordar um pouco o cortejo.  Posted by Hello

As bombas

Ora cá estou eu mais uma vez!

Fico muito contente por ver que este blog está agora com uma dinâmica completamente diferente. Pena é que essa malta aí do terceiro mundo (excepto o Torres) pense que isto funcione só num sentido :) Ao contrário do que vocês julgam, os vossos comentários também servem para fazer a estrangeirada sorrir.

Os fins de semana aqui são muito diferentes. Quando não há passeatas, que remédio temos senão estudar um pouco. Ontem estava mesmo cansado, mas por incrível que pareça, tenho tido dificuldade em dormir mais do que as habituais 8 horas ao fim de semana. Mesmo morando a dois minutos da Faculdade, são raras as noites em que durmo mais do que isso, mesmo no dia em que não tenho aulas, à quinta-feira. Até acho que tenho o sono bastante pesado, contudo, não posso ficar indiferente ao facto de às 7:15 A.M. de cada dia ver pessoas a caminharem no telhado do bloco que fica em frente à janela do meu quarto. Sim, o telhado do A-Block já está totalmente remodelado, mas as obras passaram agora para o B-Block. É impressionante, mas é ainda de noite quando os trabalhadores chegam ao telhado e começam a lançar bombas cá para baixo. Sim, porque não há cá problemas, às 7 da manhã já deve estar tudo acordado. A Joana, a portuguesa de Gestão que também está cá, diz que não consegue passar das 7 horas, por muito cansada que esteja. Ah, quase que me esquecia. Quando falei nas bombas, referia-me às antigas telhas que os trabalhadores atiram cá para baixo. Não há nada mais emocionante para começar o dia, que sair do quarto e ver uma telha preta a estatelar-se à nossa frente.

Por muito que eu não queira, já faltam pouco mais de 6 semanas para eu entregar o meu projecto. Não posso dizer que não esteja a gostar, mas o facto de estar a usar normas dinamarquesas e soluções construtivas que os gajos querem, não torna as coisas fáceis. O nosso projecto é sobre um antigo “celeiro” que querem transformar num ginásio, com piscina e tudo!!! (haja dinheiro) Temos que manter a estrutura antiga (paredes resistentes de alvenaria) e construir uma nova estrutura por dentro. O problema é que apesar de todos (no meu grupo tenho mais uma polaca e uma húngara) querermos betão armado, apenas o vamos utilizar nas fundações e piscina! É só aço e madeira... Depois é preciso dimensionar os contraventamentos para a estrutura de aço, o telhado em madeira, é a loucura... E não sou o único. O supervisor do Luís Cardeal quer que ele faça uma estrutura com paredes resistentes pré fabricadas!!!

Para imaginarem como eles são mesmo muito “verdes”, aprendemos a lidar à pouco tempo com um programa que calcula todos os resíduos que certa solução construtiva produz (gasolina, fumos, CO2, aquecimento, poluição da água, eu sei lá). Mais, eles querem ter dentro de muito pouco tempo mais de 25% das casas todas construídas em madeira. Isto aqui é outra divisão, está tudo estandardizado. Até portas e janelas só são fabricadas com determinadas medidas.

Ao contrário de vocês, Diogo e Ana, eu ainda não tive nenhuma visita de estudo; muito menos direito a banquete com malta de grande poder económico. Parece que talvez tenhamos a oportunidade de visitar uma fábrica de aerogeradores. Mas o que é isto quando comparado com as galerias LaFayette ou com um concerto da Orquestra da UBS no Auditório Nacional? Cada um tem o que merece, não é?

Por hoje chega. Isto por aqui já começa a chegar aos 5 ºC à noite, “está a aquecer”!

Beijinhos e abraços para todos!

João Plácido

P.S. – Alguém sabe se já está marcada a hora da decapitação do Santana Lopes e de um tal de Victor Fernandez? Não quero perder isso!

P.S. 2 – Não prometo nada Torres, mas pode ser que ainda apareça. Mesmo assim, muitos parabéns e boa sorte!

Uma Aventura nas Salas Negativas

Recebi um E-mail dinâmico falando numa procura de obras artísticas de alunos da FEUP para expôr na denominada FEUPCriativa. Como escrevi um romance durante 4 anos que estudei cá, decidi responder ao mail. Um tal de Paulo Vasques disse-me que gostava que eu fizesse uma pequena apresentação do livro, apesar dele não estar ainda publicado e combinou uma reunião comigo na sala A-104.
No dia que marcámos lá fui eu ao 1º piso do edifício A, onde está a entrada principal do auditório e o bar desse edifício e comecei a procurar a dita sala. Encontrei-a, mas achei um pouco estranho, dizia Sala de Actos em cima e quando abri a porta senti-me observado pelos 20.000 retratos de antigos directores da FEUP. Não podia ser ali, mas a sala estava marcada como A-104. Esperem A-104... e não A104, será que este edifício tem piso -1? Não pode, nunca tinha reparado em tal caso, e já passei horas e horas naquele edifício aquando das minhas peças teatrais. Começo a descer as escadas daquele estranho hall com 2 sofás castanhos e não é que existe mesmo um piso -1? Abro a porta CF e encontro um corredor estranhíssimo, com portas que proibem o acesso a pessoal desautorizado, uma pequena sala com algumas secretárias e a tal porta A-104, com um sinal a dizer "Projecto Júpiter" em cima. Que é isto? Estou a participar no Being John Malkovitch? Vou entrar na mente dele? Salas negativas?
Bato à porta e ninguém me responde, nada, estou sozinho no estreito corredor, no local mais estranho da faculdade. Tenho medo! Irei ser raptado? Será esse tal Paulo Vasques alguém deste mundo? Será um Jupiteriano? Ou estará lá dentro o Deus dos Deuses Romanos?
Um impulso fez-me abrir a porta, e em vez do pequeno gabinete que estava à espera (tudo era pequeno naquele piso) aparece-me uma sala muitíssimo ampla, com pouca luz e com divisões em pladur e vidro. Um pavilhão cheio de pequenos aquários. Ao fundo, um homem de camisola preta: O senhor é o Miguel Torres? Sim, sou eu. Paulo Vasques, muito prazer. Cheio de medo lá entrei no aquário dele e lá marcámos a apresentação. Ainda me falou do Grande Auditório, mas para eu ter meia dúzia de amigos a ver-me falar basta o Ponto de Encontro da Biblioteca, no 6º Piso. Dia 10 de Novembro às 15h, se quiserem apareçam!

terça-feira, outubro 26, 2004

No woman, no cry... - Algures, em Amesterdão Posted by Hello

O homem do supermercado

Acho que já fui mais vezes ao supermercado desde que estou cá, do que em toda a minha vida. Felizmente, o supermercado fica a cerca de 300 metros e tem o belo nome de REMA 1000. Sinceramente não faço a mínima ideia se tem algum significado especial, mas por aqui, todos o conhecem por REMA.

Como agora sou um rapaz que tem que tratar da casota, passei a ter sempre comigo um papel onde vou anotando aquilo que preciso de comprar. Não há maior frustração do que chegar a casa e lembrar que me esqueci de comprar qualquer coisa :( O supermercado não é muito grande; para terem uma ideia, nem existe a hipótese de pilotarmos os bólides, mas é possível encontrar quase tudo. Contudo, a parte mais divertida da ida ao supermercado, é quando damos de caras com a fotografia do Big Boss, à entrada. Tem aquela pose típica das fotografias do McDonalds em que se vêm os empregados do mês, mas a bigodaça dá-lhe um toque especial! Aquela fotografia deve estar ali há meses, mas mesmo assim não consigo evitar um sorriso sempre que olho para ela. O homem está sempre por lá a fazer os mais diversos trabalhos, porém, o mais espectacular de todos, é quando precisa de ir para a caixa registadora. Nesse preciso momento, a criatura encarna a personagem de homem mais rápido do mundo. É impressionante a velocidade com que ele passa os produtos pelo feixe infravermelho e avia cada cliente. Melhor do que isso, é o facto de dizer o preço total em dinamarquês e inglês em menos de um segundo! Se não tivesse já os seus 50 anos, diria que o recorde dos 100 metros correria perigo.

Aproveito também para saudar a ressureição da Ana. Não foi ao terceiro dia, conforme as escrituras, mas ainda vens a tempo. Ouve lá, essa história de ter alojamento à borla em Paris é mesmo verdade? Essa ideia tem-me passado pela cabeça nos últimos tempos...

Caramba Diogo, esses gajos ainda são mais fanáticos que um taxista benfiquista. Até tenho medo de imaginar se eles tivessem marcado um golo virtual ao Vítor. A propósito disto, recomendo vivamente o seguinte link, a não perder: http://www.tsf.pt/online/common/include/streaming_audio_radio.asp?audio=/2004/10/noticias/20/cromos20.asx

Fico-me por aqui. Estudem muito!!!

Cumprimentos,

João Plácido

P.S. – Também tenho que admitir que sou grande adepto da técnica “Sara”. Na primeira vez ainda ousei em passar duas t-shirts a ferro, mas depois... A gravidade ainda não se paga, felizmente. Porque não deixar que o peso próprio de umas roupas por cima das outras faça o seu trabalho!

sexta-feira, outubro 22, 2004

O SuperLino

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O nosso homem alcançou um honroso 2º lugar na mundialmente famosa 3ª Corrida da Asprela. Lino Maia fez uma corrida bem estruturada, apoiada em dois grandes pilares, a sua capacidade de sofrimento e a sua velocidade de ponta. Lino não conseguiu chegar ao 1º lugar mas estamos à espera do resultado do controlo Anti-Doping, por isso ainda há esperanças. Quem pensava que a Trofa ficava perto de Santo Tirso e de Famalicão, enganou-se! A Trofa é um subúrbio de Nairobi e Lino treina em altitude, aliás, para ser um Queniano a sério só lhe faltam uns dias de praia!

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Quanto a mim, podem ver-me na foto a liderar o pelotão que estava a alcançar um fugitivo, o número 99 - Vítor Baía (Que foi para a corrida treinar-se para os jogos que vai ter na selecção após as suas últimas exibições "à Ricardo"). Pois, não fui eu que ganhei. Mas sabem porquê? Quando liderava a corrida apareceu um padre irlandês que me agarrou e levou para o lado oposto da estrada. Levantei-me com ajuda da polícia e quando ia retomar a corrida apercebi-me que o irlandês tinha roubado o meu dorsal (vejam a prova disso na foto, levo o dorsal na mão). Depois fui a correr atrás do carro dele pela circunvalação abaixo e só reavi o meu dorsal quando o padre ficou sem gasolina à beira do Castelo do Queijo. Vim para trás, voltei à corrida no sítio em que o irlandês me apanhou e consegui regressar à liderança poucos quilómetros depois. Quando apanhei o Vítor Baía e fiz o ataque final, ganhando logo uma grande vantagem, tive um furo e fiquei à espera do carro de apoio. Depois de mudar de sapatilhas estava em 56º a 1km do fim, ainda consegui chegar ao 34º, mas melhor era impossível. Ganhei o prémio do azar!

EFE

(Altura em que fui agarrado pelo irlandês)

O que restou... Posted by Hello

A colher

Lembro-me muito bem de um dia antes de vir para cá, pedir à minha mãe uma. Não uma colher normal, mas sim uma super colher!

Inspirado pelo grande Diogo, que já tem um grande calo nestas andanças internacionais, achei que era necessário uma daquelas colheres que têm os círculos correspondentes à quantidade de massa que cada pessoa costuma comer. É claro que isto partiu da sua declaração “Vais comer todos os dias, massas com massa”. Longe estava eu de saber que não há melhor aparelho de medição na cozinha que o nosso olho, e ainda para mais, que depois de se comer algumas vezes alimentos bem tostados, as coisas vão melhorando.

Pois bem, continuo a achar que os meus dotes culinários andam ainda muito longe do nível Mãe ou Avó, mas vão progredindo lentamente. Isto tudo para dizer que os belos tempos da colher azul chegaram ao fim. Sim, estava eu a fritar o belo do filete de pesacada, quando me lembrei que tinha chegado a hora de o virar. Como o que estava mais à mão, era a bendita colher, lá foi. O problema, é que, devido ao meu enorme jeito e à minha iluminada inteligência...ka put! Por vezes não sei para que quero mais de 16 anos de escola. Será que é assim tão difícil saber que o plástico não se dá muito bem com o calor?

Enfim, a minha mãe não vai gostar muito de ver a fotografia. Tanta corrida naquela segunda-feira para acabar nisto, enfim.

Bem, isto hoje ficou uma porcaria, pode ser que para a próxima esteja mais inspirado. Quero agradecer as mensagens e mails que toda a gente me tem mandado, é sempre bom receber umas palavras em Português. Gostava também de dar as boas vindas ao Diogo. Não sou grande expert em informática, mas acho que o Torres te vai dar uma ajuda a entrar para o BLOG.

Fiquem bem!

João Plácido

P.S. – Ei Paulo, ainda me inscrevi na corrida mas já não fui a tempo. Mesmo assim, parece que o Lino deu espectáculo, certo?

quarta-feira, outubro 20, 2004

E já agora, esta para o André Posted by Hello

Hoje é dedicado ao Leandro :) Posted by Hello

O Torben Brøckner

Estou cansado como o caraças, mas não podia deixar de vos contar isto!

Hoje tive dose reforçada de FEM (qualquer coisa como Método dos Elementos Finitos, basicamente, um programa de cálculo automático de estruturas) porque o professor teve que se ausentar durante uma semana. Como aqui na Dinamarca, aulas são aulas, hoje tivemos a respectiva compensação.

Quando ele nos avisou que iríamos ter uma maratona de 4 horas de aulas, escreveu no quadro qualquer coisa como: “And after, some beers...”. Durante muito tempo, sempre pensei que isto fosse a brincar, até chegar o dia de hoje. Acabada a aula, o professor lá disse: “Bem, agora venham até ao laboratório de Física, sala B 203”. Qual o nosso espanto quando chegámos lá e era mesmo verdade! Lá estavam as nossas cervejas e os refrigerantes para quem quisesse, ali, no meio do laboratório entre computadores e aparelhos de valor considerável. Ficamos por lá a conversar, a rir, durante cerca de uma hora. Todos os estudantes internacionais estavam completamente surpreendidos, tal como eu. Agora tentem imaginar isto com aquelas pessoas que todos nos conhecemos, impossível. Tiramos umas fotografias e tudo (espero ter a oportunidade de colocar isso aqui). No caminho para casa vinha a falar com uns colegas e mesmo agora ainda é difícil acreditar; a relação com grande parte dos professores é tão diferente, tão próxima, que parece quase estranho. Quando nos cruzamos eles cumprimentam-nos, podem não saber o nosso nome mas pelo menos sabem a nacionalidade, vão ao mesmo supermercado que nós, andam de bicicleta...sei lá, é mesmo muito engraçado.

<>Hoje fico-me por aqui. Até amanhã!

João Plácido

P.S. – Ah, quase que me esquecia. Parabéns ao Elvis!!! Quer dizer, ao André (se é que o meu reles auxiliar de Internet não me está a atraiçoar). O Rui faria tem sido muito chato?

P.S. 2 – Esta semana isto está mais português. Chegaram uns amigos da malta de informática. Tenho que dizer que ontem comemos mesmo bem!


terça-feira, outubro 19, 2004

Homo Portucalensis

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Falo-vos agora deste povo estranho que conheci quando cheguei a Portugal: os portugueses.

O Homo Portucalensis parece ser proveniente de um fenómeno regressivo de especiação do Homo Sapiens Sapiens que poderia contradizer as teorias evolucionistas de Darwin. No entanto, esta aparente contradição não tem rigor científico, pois o Homo Portucalensis tem melhores características de sobrevivência não só em países periféricos à beira-mar plantados como noutros países, mas sobre isso falarei mais tarde.

O Homo Portucalensis apresenta, na actualidade, duas linhas evolutivas. A mais antiga, com mais de 40 anos geológicos, tem como características mais visíveis um farfalhudo conjunto de pêlos por baixo do nariz, uma gargantilha dourada, uma camisola cadeada branca, uma diferença de coloração cutânea do braço para o antebraço e um coração desbotado nesse mesmo antebraço rodeado por alguns sinais que dizem “AMOR DE MÃE”, seguidos de um “ANGOLA” e um conjunto de números que penso serem identificadores do ser em causa. Entretanto, nos anos geológicos mais recentes, surgiu uma nova linha evolutiva, que mantém alguns traços dos seus ancestrais, como a gargantilha, mas o coração, o “AMOR DE MÃE”, o “ANGOLA” e o número saíram do antebraço e saltaram para costas e adquiriram a forma de letras chinesas, signos do Zodíaco e sinais de uma qualquer civilização que só os tatuadores conhecem. O boné com uma pala bem arredondada e o brinco na orelha esquerda são outros sinais deste novo Homo Portucalensis, acrescentando-se o cabelo rapado ou oxigenado e as mãos nos bolsos. Também existem outras linhas de Homo Portucalensis mas sendo minoritárias não merecem um estudo científico pormenorizado.

O Homo Portucalensis, em todas as suas linhas evolutivas, é conhecido pela sua capacidade industrial de produzir saliva, sendo por isso habitual vermos um exemplar desta espécie cuspindo o que tem em excesso. Na calçada a saliva não se sente sozinha, está acompanhada por filtros de cigarros, latas, dejectos de animais de companhia do Homo Portucalensis, e numa relação simbiótica todos lutam por uma sobrevivência longe da reciclagem e incineração. Ao lado, os automóveis são conduzidos por um povo que tem dez corredores de Fórmula 1 por cada dez Homo Portucalensis. Em Portugal, quando o semáforo passa de vermelho para verde não é sinal para o Homo Portucalensis colocar o pé no acelerador e arrancar, é altura para colocar a mão na buzina e apitar.

O Homo Portucalensis também tem uma qualidade mítica. O seu apego ao passado de uma forma doentia. Para este ser, as travessias transatlânticas ainda são feitas à custa de barcos à vela, o seu império ainda é meio mundo e o seu clube com mais adeptos ainda vence jogos internacionais. Inventou uma estranha palavra chamada “Saudade”, com a qual o novo conceito “Produtividade” entra muitas vezes em conflito. Mas também, para que se deseja a produtividade quando o Homo Portucalensis é um ser que deixa tudo para o último dia, utilizando depois a famosa arte do desenrascanço? Podem falar em pouca produtividade, pouco profissionalismo, mas ninguém pode negar que o Homo Portucalensis é sempre capaz de superar os problemas, sem ciência, sem técnica mas utilizando uma arte inacessível aos demais e cuja existência está relacionada com o êxito evolucionista desta espécie. Todos os trabalhos que aparentam ser impossíveis para o mais comum Homo Sapiens Sapiens, o Homo Portucalensis consegue realizá-los, desde que o prazo de execução já tenha terminado. Esta revolução evolucionista atravessa todas as classes sociais do Homo Portucalensis, todas as idades, ambos os géneros, todas as linhas evolutivas e, como referi no início deste ensaio, inclusive a diáspora do Homo Portucalensis personifica o conceito de desenrascanço. Um ser desta espécie, mesmo longe do seu habitat natural utiliza o desenrascanço para abrir uma janela de oportunidade com um atestado médico. Se essa janela tiver um espaçamento superior a sete dias, então o Homo Portucalensis apela à qualidade-saudade e regressa ao seu país para mostrar o seu automóvel com um F em P colados na mala, um terço e um pinheiro de cheiro no retrovisor e bolinhas de madeira a forrar os bancos. Mas não é apenas esse atestado médico a efectivar o desenrascanço, a capacidade de trazer numa única viatura patinhos de porcelana, luzinhas de natal e leões de pedra dourados para decorarem o jardim da sua casa cor-de-rosa é por si só um desenrascanço. No entanto, a capacidade de falar com as suas crias em francês e de insultá-las em palavrões portugueses quando se portam mal, não está incluída neste conceito. Talvez seja de difícil compreensão o desenrascanço Homoportucalensiano, por isso vou acrescentar o exemplo de utilizar como quarto de banho todos os locais possíveis e impossíveis. Existe inclusive uma lenda, que nas profundezas da Atlântida ainda está um grupo de portugueses a urinar, estando eles por detrás da catástrofe que afundou esta civilização. Sim, porque a união entre vários Homo Portucalensis vai ao ponto de os colocar em grupo mesmo quando se dedicam a tarefas excretoras. No caso das fêmeas os grupos são constituídos apenas por dois exemplares da espécie, no caso dos machos, os grupos são muito maiores, fazendo mesmo estranhas competições entre si. Talvez este conceito do um Homo Portucalensis acompanhado sempre por dois ou três Homo Portucalensis seja a génese de momentos inolvidáveis em que os dois ou três Homo Portucalensis eram dois ou três milhões vestidos de branco e cheios de saudade de desconhecidos, vivendo do outro lado do planeta e que nunca mais voltariam. Podem criticar o Homo Portucalensis por tudo o que referi, mas quando ele se une, pode ser derrotado mas não se esquece dos amigos, nem vira as costas quando um qualquer Homo Sapiens Sapiens não se consegue desenrascar e lhe pede ajuda.

segunda-feira, outubro 18, 2004

A minha Avó

A razão dos dois dias de atraso dos meus pais foi bastante triste. A minha avó faleceu no dia 30 de Setembro, quinta-feira. Foi a pessoa mais próxima de mim que alguma vez perdi e não foi fácil, mesmo estando tão longe. Ainda me passou pela cabeça engendrar um plano qualquer para poder ir a Portugal, mas depois de falar com os meus pais, decidimos que era melhor não sair daqui.

Ainda me lembro bem do último dia em que estive em Portugal. Mesmo sabendo que ainda tinha algumas tralhas para arrumar, pedi ao meu pai para me levar até casa da minha avó. Longe estava eu de pensar que seria a última vez que a veria, mas a vida tem destas coisas. Depois de diagnosticada a doença que vos tinha falado, o meu pai e a minha tia resolveram fazer umas obras lá em casa da minha avó. Até parecia que aquele espaço, tantas vezes escuro e taciturno, tinha ganho nova vida. Os meus pais pediram à senhora que costumava ajudar a minha avó, para passar a dormir lá em casa. Até tinha uma neta, que adorava a minha avó e dava uma nova alma aquela casa. Sabia que os dias dela já não seriam muitos, mas nunca pensei que tão poucos. Lembro-me bem que depois de vir do Hospital, a vi pela primeira vez em muitos anos, com uma roupa que não era preta. Era um roupão azul, que me fez relembrar que a minha avó tinha os olhos azuis. Depois de lhe dizer isso, aconselhei-a também a experimentar novas cores, que devia andar segundo a moda. Ela gostava de agarrar a minha mão com muita força, especialmente quando soube que tinha este problema e que eu ia estudar para a Dinamarca.

Na primeira ou segunda semana aqui na Dinamarca, liguei-lhe. Não falamos muito, é verdade, mas fiquei mesmo contente e feliz. Pareceu-me muito animada (e realmente estava) e disse-me que estava a sentir-se bem. Depois foi a vez de ela me ligar, um dia antes de fazer anos. Fiquei um pouco embaraçado quando a minha avó me perguntou se me tinha esquecido que ela fazia anos no dia seguinte. Contudo, acho que agora percebo que talvez aquilo não passasse de um pretexto. Falamos, rimos e recomendei-lhe mais uma vez que continuasse a usar o roupão azul, à Pinto da Costa :) Foi a última vez...

O meu pai disse-me que a minha avó me mandara um beijo, quando ele se foi despedir a casa dela, na quarta-feira anterior. Dissera-lhe que sabia que já não me veria nunca mais. Que cruel que deve ser, quando se sabe que o nosso tempo de vida já não é muito. Lembro-me que ainda fui a tempo de passear a minha avó no meu carro (uns meses antes) e de lhe recomendar que não andasse na berma da estrada, mas sim no passeio. Mal sabia eu o quanto lhe devia custar cada passo.

Contudo nunca lhe cheguei mostrar a fotografia, lembram-se?

Escrever isto custou-me mesmo bastante. Desculpem lá tanta lamechice, mas acho que não ficava bem comigo se não escrevesse isto.

Até sempre

Bibó Porto!

Pois é, parece que pela segunda vez os lampiões levaram no pelo. Afinal de contas não ganhamos apenas ao Benfica, mas também ao campeão da sétima jornada. És grande, Baía! Mas vê lá não te distraias, ou ainda paras no restaurante do Teodósio.

Numa altura em que toda a Gendarmerie já deve andar atrás da Ana Miguel, quero-vos contar a visita dos meus pais. Acho que foi há duas semanas, mas não sei porquê, só agora me deu para isto. Como sabem, o puto não veio, apenas os velhotes. A viagem deles não começou lá muito bem. Primeiro, porque tiveram que adiar a chegada por dois dias e depois, em vez de chegarem por volta das 14:00, aterraram em Copenhaga às 20:45, SEM MALAS!!! Cheira-me que existe qualquer coisa contra as malas da minha família aqui na Dinamarca.

Alugamos um carro mas...caixa manual, sem travão de mão (era automático, acho eu), sem ignição...e era um mero Renault Scenic! O meu pai parecia um novato nos primeiros minutos, habituado que está ao “Shumacher mode” do carro dele, mas lá se desenrascou. Jantamos nos Hard Rock Café e lá fomos dormir. No dia seguinte, Domingo, fizemos um sprint. Passamos para a Suécia pela super ponte, até Malmo, e ainda passamos por Halmstad (GLORIOSO SLB!!!) antes de chegarmos a Gotemburgo (cerca de 350 km). Isto aqui na Dinamarca é muito bom, mas a Suécia pareceu-me ainda melhor. Os passeios estão sempre impecáveis, tal como as casas; as pistas para bicicletas parecem auto-estradas e as cidades, apesar de pequenas, são mesmo muito bonitas. Em Gotemburgo, passamos para a Dinamarca através do Ferry, 3:15 de viagem. Nunca tinha andando num barco tão grande, ainda para mais, que transportasse carros no porão. Conhecia apenas a nossa pequena realidade, Tróia!

Chegamos quase às duas da manhã, mas no dia seguinte fui às aulas todas. Os meus pais ficaram nessa noite aqui em Horsens, tempo suficiente para o meu pai se esquecer do casaco no quarto (só hoje é que o fui buscar). Os meus pais apareceram cá ao fim da tarde. Visitaram a Faculdade, o meu quarto, conheceram alguns colegas...estavam um bocado babados, tenho que admitir. Acho que a minha mãe estava mesmo orgulhosa com o estado do meu quarto, ao ponto de me ter premiado com uns ovos moles de Aveiro, um pão-de-ló de Ovar e duas fogaças da Vila da Feira (acho que deviam vir cá mais vezes). Finalmente, fomos jantar. Já não comia tão bem há mesmo muito tempo, soube-me mesmo bem. Nessa mesma noite ainda foram para Copenhaga (quase 300 km) pois ainda tinham que visitar a cidade e apanhar o voo por volta das 18:00.

No início, não achava muita piada ao facto dos meus pais me virem visitar, mas até acho que gostei bastante. Acreditem que fiquei mesmo com pena que o meu irmão não tivesse vindo, mas agora não há nada a fazer.

Ao que parece, ainda vou ter mais uma visita. Uma prima minha, a trabalhar na Câmara de S. João da Madeira, vem fazer uma espécie de visita de estudo a Copenhaga (tratamento de resíduos e desperdícios). Vai ser engraçado.

Bem, vão lá ver o Pinto da Costa a gozar com a malta. Sempre tem mais piada.

1 abraço a todos,

João Plácido

A malta toda junta! Posted by Hello

Malmo Posted by Hello

Malmo Posted by Hello

A entrada para o Ferry. Quem é que disse que não cabe? Posted by Hello

A super ponte entre Copenhaga e Malmo Posted by Hello

sábado, outubro 16, 2004

Um ligeiro problema mecânico :)))) Posted by Hello

Isto hoje é dedicado ao Fila!!! - Comboio fantasma! Posted by Hello

Isto hoje é dedicado ao Fila!!! - Estação de Amesterdão à noite. Posted by Hello

Isto hoje é dedicado ao Fila!!! - O Tram-Train de Amesterdão. é mesmo muito estreito e os gajos conduzem isto à maluco. Quem quiser que se arrume. Se vocês pensam que o nosso humilde metro de superfície anda no meio da cidade, têm que ver este. Posted by Hello

Isto hoje é dedicado ao Fila!!! - Na estação de Amesterdão Posted by Hello

Isto hoje é dedicado ao Fila!!! - Legoland Posted by Hello

Isto hoje é dedicado ao Fila!!! - Legoland Posted by Hello

Isto hoje é dedicado ao Fila!!! - Legoland Posted by Hello

Isto hoje é dedicado ao Fila!!! - Legoland Posted by Hello

Isto hoje é dedicado ao Fila!!! - Todas as grandes estações têm um brinquedo destes. Se bem que temos que por uma moeda por cada linha :( Posted by Hello

Isto hoje é dedicado ao Fila!!! - este é o Linx, o comboio que faz a ligação entre Copenhaga e Oslo. Não sei porquê, mas é muito parecido com o nosso Pendular. Repara na parte da esquerda. Posted by Hello

Isto hoje é dedicado ao Fila!!! - Os comboios na Dinamarca são todos iguais, como este. Não são propriamente bonitos mas andam muito. Outra coisa engraçada é que têm em algumas carruagens, nos topos, espaços para os putos brincarem. Com Legos, claro! Posted by Hello