segunda-feira, outubro 18, 2004

A minha Avó

A razão dos dois dias de atraso dos meus pais foi bastante triste. A minha avó faleceu no dia 30 de Setembro, quinta-feira. Foi a pessoa mais próxima de mim que alguma vez perdi e não foi fácil, mesmo estando tão longe. Ainda me passou pela cabeça engendrar um plano qualquer para poder ir a Portugal, mas depois de falar com os meus pais, decidimos que era melhor não sair daqui.

Ainda me lembro bem do último dia em que estive em Portugal. Mesmo sabendo que ainda tinha algumas tralhas para arrumar, pedi ao meu pai para me levar até casa da minha avó. Longe estava eu de pensar que seria a última vez que a veria, mas a vida tem destas coisas. Depois de diagnosticada a doença que vos tinha falado, o meu pai e a minha tia resolveram fazer umas obras lá em casa da minha avó. Até parecia que aquele espaço, tantas vezes escuro e taciturno, tinha ganho nova vida. Os meus pais pediram à senhora que costumava ajudar a minha avó, para passar a dormir lá em casa. Até tinha uma neta, que adorava a minha avó e dava uma nova alma aquela casa. Sabia que os dias dela já não seriam muitos, mas nunca pensei que tão poucos. Lembro-me bem que depois de vir do Hospital, a vi pela primeira vez em muitos anos, com uma roupa que não era preta. Era um roupão azul, que me fez relembrar que a minha avó tinha os olhos azuis. Depois de lhe dizer isso, aconselhei-a também a experimentar novas cores, que devia andar segundo a moda. Ela gostava de agarrar a minha mão com muita força, especialmente quando soube que tinha este problema e que eu ia estudar para a Dinamarca.

Na primeira ou segunda semana aqui na Dinamarca, liguei-lhe. Não falamos muito, é verdade, mas fiquei mesmo contente e feliz. Pareceu-me muito animada (e realmente estava) e disse-me que estava a sentir-se bem. Depois foi a vez de ela me ligar, um dia antes de fazer anos. Fiquei um pouco embaraçado quando a minha avó me perguntou se me tinha esquecido que ela fazia anos no dia seguinte. Contudo, acho que agora percebo que talvez aquilo não passasse de um pretexto. Falamos, rimos e recomendei-lhe mais uma vez que continuasse a usar o roupão azul, à Pinto da Costa :) Foi a última vez...

O meu pai disse-me que a minha avó me mandara um beijo, quando ele se foi despedir a casa dela, na quarta-feira anterior. Dissera-lhe que sabia que já não me veria nunca mais. Que cruel que deve ser, quando se sabe que o nosso tempo de vida já não é muito. Lembro-me que ainda fui a tempo de passear a minha avó no meu carro (uns meses antes) e de lhe recomendar que não andasse na berma da estrada, mas sim no passeio. Mal sabia eu o quanto lhe devia custar cada passo.

Contudo nunca lhe cheguei mostrar a fotografia, lembram-se?

Escrever isto custou-me mesmo bastante. Desculpem lá tanta lamechice, mas acho que não ficava bem comigo se não escrevesse isto.

Até sempre

2 Comments:

At segunda-feira, outubro 18, 2004 11:01:00 da tarde, Blogger MT said...

Força aí! Este ano também me aconteceu o mesmo :(

 
At quinta-feira, outubro 21, 2004 1:51:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Plácido, antes de mais queria dar-te os meus sentimentos. Olha, o facto de não teres vindo cá a Portugal não tem grande relevância, pois o que é preciso nestas situações é rezar e pedir a Deus que olhe por ela. E como se diz que: "Deus está em toda a parte", com certeza que estará na Dinamarca também!
Olha, já te inscreveste na super 3ª corrida da aefeup? Ainda n vi o teu nome lá :-)
Abraço do teu amigo Paulo

 

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