segunda-feira, janeiro 31, 2005

A loucura!

Não há dúvida que os meus companheiros de Blog são do mais fraco que há. Agora que não têm nada para fazer (compreenda-se que quando dizem que estão cheios de trabalho significa que têm festas todos os dias. Também utilizava esse truque :) ) não se dão sequer ao trabalho de escreverem. O último post do Diogo data de 12 de Dezembro! Enquanto que à Ana subiram-lhe os comments à cabeça... Mas o que é isto? Andamos a brincar aos Blogs, é? Se existe aqui gajo que já não tem obrigação de escrever, sou eu. Mas enfim... Hoje vou sacrificar a minha corrida e a volta de bicicleta para tentar dar algum colorido aos vossos dias monocromáticos. Quer dizer, agora que andam para aí a tirar 16 e 17 já nem devia ter pena de vocês, mas tudo bem.

Muita gente me tem perguntado como têm sido estes dias, os primeiros depois da minha chegada. Sinceramente, até pensei que o choque fosse maior. Se calhar, como vim cá no Natal, já estava mais ou menos preparado. Mas também é verdade que tenciono mesmo cumprir as promessas que fiz a alguns amigos de que um dia voltarei a vê-los. Aliás, mesmo não estando agora com eles, são inúmeras as vezes que me lembro de tudo aquilo que vivemos juntos. De momento, isto é a coisa mais fácil de acontecer porque o meu quarto está neste momento transformado num museu Erasmus (para piorar a situação, os meus 20 kg de tralhas que enviei pelo correio chegaram sexta-feira). Confesso aqui, perante toda a gente que lê estes rabiscos, que a única coisa que arrumei desde que cheguei foi a roupa! A minha mãe até já fica algo renitente quando tem que entrar lá no quarto. Pior do que isso, é que tinha prometido a mim mesmo que o arrumaria hoje à tarde, mas uma provocação (cheia de razão) do Edgar, fez-me tentar devolver a dignidade a este Blog.

Tenho uma teoria que diz que as pessoas que mais comments escrevem neste Blog são aquelas que melhores resultados obtêm na faculdade. (Que golpe baixo, não acham?)

Agora, vamos ao que interessa. Na Dinamarca, como um bom Erasmus, fiz muitas coisas pela primeira vez (nada de piadas foleiras). Já não bastava ter arriscado a vida, quando os húngaros me convenceram que correr 18 km era como limpar o rabo a meninos (se bem que sempre tenha achado esta comparação muito feliz. Quem é que gosta daquele pivete?), até que, num dos últimos dias o Istvan disse-me. “João, hoje não vai dar para correr. Vamos tomar banho à praia!” Perdido por 10, perdido por 1000! Lá fomos nós.

Eu, mais dois húngaros e um alemão. Para quem não sabe, este alemão, o Martin, tinha acabado de se formar em Engenharia Civil, há uns dias, com um Projecto Final avaliado em 95% (mesmo assim, ele sempre me disse que os 100% eram a nota justa, mas como não quis arranjar problemas...).

Deviam ser umas 15:30 quando nos pusemos a caminho no carro do Martin. Ia pensando no estado da minha mente quando vi que o termómetro do carro marcava 5,5 ºC. Ia ser um banho fresquinho! A praia ficava junto a um dos parques de campismo de Horsens, mas ainda tivemos que esperar que um carro com um casal de velhotes desaparecesse dali, para podermos dar início à transfega (para quem não sabe, transfega é uma arte circense praticada principalmente na praia e que se caracteriza pela troca de calções sem que ninguém dê por nada. Quando isto é realizado por mim, costuma dar sempre origem a situações no mínimo hilariantes). Depois de estarmos prontos, lá fomos nós, qual Bruce Willis ou Ben Affleck prestes a combaterem o Armagedão! Estava um frio de cortar a respiração e antes de colocar os pés na areia já eles estavam gelados; lembro-me que tivemos que amarrar as toalhas a um pontão que lá havia para evitar que voassem. Mas não havia tempo para mais nada, era agora ou nunca! Fomos todos juntos. Foi impressionante como nos primeiros 15 segundos em que estivemos dentro de água os nossos pés quase deixaram de ser sentidos, tal era o frio.

Contudo, o pior ainda estava para vir. Lá mergulhamos!!! Vocês não imaginam o choque que é sentir aquela água gelada em tudo o que é sítio (sem excepções). Penso que até a célula mais longínqua, mais malandra, que nunca fez nenhum nestes 22 anos, deve ter acordado naquele ápice! Acho até que deu para ver a luz ao fundo do túnel durante uns milésimos de segundo.

Saímos depressa e tirámos mais uma fotografia. Não sei porquê, mas todos nós caminhávamos ao belo estilo do “Corcunda de Notre Dame”. Porém, enquanto nos secávamos à pressa para nos metermos dentro do carro, eis que aparece uma senhora dinamarquesa, com os seus 60 anos, a passear o Pastor Alemão. “Então e a prova que falta? Os quatro homens mais fortes do planeta juntos, algures no Mar Báltico, com uma temperatura dentro de água certamente inferior a 5ºC?!”. Presumo que a pobre senhora tenha pensado que tínhamos acabado de fugir da prisão ou de algum manicómio mas depois lá percebeu a minha explicação. Contudo, depois de tirar a fotografia pôs-se logo a caminho, pensando talvez que quiséssemos ter companhia feminina no banho! ;)

O caminho até ao carro ainda custou um pouco. De repente, os pés que estavam completamente gelados ficaram a arder! (devem ser efeitos secundários do apocalipse, pensei eu!). Lembro-me que quando cheguei a casa, fiquei no banho no mínimo meia hora. E nos primeiros 5 minutos ainda senti aquele formigueiro todo, característico do choque térmico. Há gajos malucos!

Chega de baboseiras. O que é isto comparado com os vossos mirabolantes professores ou os critérios de correcção de princípios duvidosos. Vejam lá se estudam que eu vou ver se arrumo o meu quarto! Sinceramente, não sei o que é mais difícil :)

Beijinhos e abraços para todos,

João Plácido

P.S. – Escrevam, carago!